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quarta-feira, 4 de julho de 2007


A SINTONIA DA NATUREZA E OS MISTÉRIOS DO SOL E DA LUA


Outro dia, assistindo televisão, via a propaganda de um certo refrigerante, onde algumas centenas de pessoas dançavam em uma ”rave” a céu aberto. De repente, no meio da noite, um clarão se aproxima. É o sol vindo com uma “boca” enorme comendo toda a barra da noite. Os jovens então começam a correr em desabalada carreira, na tentativa de escaparem do Sol que teimava querer iluminar tudo e se o fizesse, acabaria por estragar a festa da moçada. Utopia pura, mas não é que eles conseguem? Fugiram do Sol e continuaram sua festa sob a luz da lua e das estrelas, numa grande euforia.. Ao ver esse comercial, me lembrei que quando era criança, via o Sol se esconder todo fim de tarde por detrás dos prédios de meu bairro e sempre me perguntava onde é que ele dormia. Na minha ingênua infância, não compreendia onde é que morava aquele gigantesco astro e mais do que isso, o que me espantava era o fato de que o Sol tinha imensos raios e que seria impossível recolher todos eles e guarda-los em tempo hábil até que a noite chegasse. Um dia, minha mãe me disse que em determinada época do ano, o Sol brilhava até mais tarde, “esticando” o dia um pouco mais, mas em compensação, acordava mais tarde, fazendo com que a madrugada durasse mais. Eu não entendia nada e em minha ingenuidade dizia pra mim mesmo: Tadinho do Sol, trabalha até mais tarde e depois está tão pregado que fica com preguiça de recolher todos os seus milhões de raios e fica cansado até de se retirar, o fazendo de forma lenta, como que a dizer pra noite: “Calma dona Noite! Não fique chateada comigo, eu sei que a Senhora está louca pra chegar e iniciar o seu turno de trabalho, mas estou tão cansado hoje que vou embora mais devagar. Mas em compensação, a Senhora poderá ir até mais tarde, porque vai ser difícil para eu me levantar da cama e demorarei para estender todos os meus raios sobre a terra.!” Foi aí, que ainda criança, tive as primeiras noções da sintonia, do sincronismo e da harmonia que reina na natureza. Natureza essa, harmônica e que não da saltos, seguindo seu curso natural, numa sintonia que deveria existir entre nós, mas que na maioria das vezes, infelizmente não há. E então, depois de muito pensar, vendo o Sol descer e descer, eu corria que nem um louco pelo meu bairro até encontrar um ponto bem alto para que eu pudesse acompanhar o máximo possível o Pôr do Sol, a tempo ainda de ouvir a Dona Noite dizer: "Bom descanso amigo Sol! Eu, a Lua, os Planetas e as Estrelas te cobrimos para que tenhas um merecido sono reparador, a fim de que amanhã despertes ainda mais brilhante e disposto a iluminar todos os céus do mundo!" Outro dia, numa viagem que fiz para são Thomé das Letras, subi no topo da Gruta de São Thomé para ver um dos mais bonitos Pôr do Sol do Brasil e me lembrei dessa passagem, me emocionando sobremaneira. E quando enfim a noite dominou todo o ambiente fazendo com que o céu se enchesse de estrelas, eu olhei para o alto e comecei a cantar alegre:


A noite é um mistério

Que eu finjo em compreender

Sentado nas varandas

Esperando o amanhecer

Estrelas lá no céu

Fogueiras no sertão

E as luzes da cidade

Não espantam a solidão

Dona lua já se foi

Polvilhar outro rincão

Com o trigo da saudade

Que é a massa do meu pão

A noite é um caso sério

Que eu não vou resolver

Enquanto dormir longe

De quem faz meu bem querer

Dona lua...


A música é Varandas, de autoria de Almir Sater e Paulo Simões

3 comentários:

Anônimo disse...

Voei no tempo e no espaço, acompanhando o texto me perdi nas minhas memórias, no fato de re-vivenciar alguns momentos em que observava o por do sol, como um momento mágico e de puro encantamento.
Lembro que durante um certo tempo o fato do sol se ir e voltar no outro dia, de forma alegórica se traduzia pra mim em esperança, pena que depois cresci. bj grande

Dani (ela) disse...

Zé, não tem quem não leia e volte às suas próprias lembranças. que gostoso, né?

mas sabe, o homem perde a sintonia com o irmão porque esquece que é natureza, que nem o sol, que nem a lua... (basta um dar o lugarzinho para o outro né?)

o nascer e pôr do sol é esperança, mas certeza também.

abraço.

Moniquinha disse...

Nossa, como são doces as lembranças de infância...parece que quando éramos crianças tínhamos a magia de imaginar a vida com tanta vontade que as coisas mais malucas eram nossas realidades. Eu me lembro, que criava imagens na Lua...e adorava tentar fixar meus olhos no sol, claro que sem sucesso, mas era como se ele me desafiasse, e eu aceitasse esse desafio, e eu ficava imaginando se um dia eu conseguiria encará-lo frente a frente, vencer seu brilho pra´mim era uma questão de honra...nossa, é impossível, não pensar como a Clara...que pena que crescemos!
Meu lindo, parabéns pelo belo texto, e obrigada pela doce lembrança.
beijos!